Gerente de marketing negra denunciou preconceito em processos de seleção em rede social; recrutadores dizem que discriminação ainda existe, mas empresas estão mais conscientes.
O quanto a discriminação atrapalha as chances de um profissional ser contratado?
Nos Estados Unidos, uma gerente de marketing e de projetos negra fez um teste durante três semanas numa rede social profissional. Ela se candidatou às mesmas vagas com seu perfil verdadeiro e um falso que ela criou com as suas informações profissionais, porém com o nome e a foto de seu noivo, que é branco. Segundo ela, o perfil verdadeiro, com sua foto, obteve um índice de resposta de menos de 2% em relação às vagas às quais se candidatou, enquanto o falso, com a foto e o nome do noivo, obteve 40% de retorno para as mesmas vagas.
E no Brasil? Por aqui, uma pesquisa da Vagas.com, companhia de soluções tecnológicas para recrutamento e seleção, revelou que mulheres, pessoas pretas, pessoas com deficiência e profissionais mais experientes e qualificados foram os que mais se sentiram afetados em processos de recrutamento e seleção.
A pesquisa, feita com mais de 3,2 mil candidatos entre 6 de fevereiro e 13 de março, mostrou que 50% dos candidatos respondentes se sentiram prejudicados em dinâmicas seletivas. Dentro desse grupo, 54% são mulheres, 55% são pessoas pretas, 59% são pessoas com deficiência, 64% são pessoas com mais de 55 anos e 59% são pós-graduados.
Ao serem questionados sobre os motivos da discriminação, os candidatos afirmaram as seguintes razões:
idade (37%)
local de moradia (15%)
raça/etnia (12%)
estilo e condição social (11%, cada)
peso (10%)
faculdade que frequentaram (9%)
gênero (6%)
religião ou crença (5%)
deficiência (1%)
Para Sergio Margosian, gerente da consultoria de recrutamento Michael Page e especialista em RH, no entanto, a situação está mudando.
“A gente se encontra num momento muito importante de evolução [para tratar as questões] de gênero, raça e idade. Sugerimos sempre avaliar as competências e valores do profissional para as posições, mas vivemos num país em que a nossa educação precisa evoluir”, afirma.
“Infelizmente essas situações podem ocorrer no mercado de trabalho, no entanto, as empresas estão cada vez mais olhando para as competências e experiências profissionais e valorizando a diversidade”, diz Ellen Souza, assessora de carreira da Catho.
Margosian diz que, na maioria das vezes, as empresas não falam o tipo de profissional que querem porque sabem que é errado. “Muitas vezes não é falado, mas o cliente tem suas preferências, ele demonstra isso na tomada de decisão. Quando entrevista o profissional é que ele vai escolher e aprofundar na compreensão das competências e valores. E ele pode mudar de opinião e descobrir que estava equivocado no preconceito dele”, diz.
O especialista de RH diz que, caso o cliente especifique que quer um homem para a vaga, e o recrutador encontra uma excelente candidata com alta performance, essa profissional acaba passando para a entrevista e o cliente reconhece que ela é muito boa. “É a oportunidade que ele tem de quebrar o preconceito dele, uma oportunidade de evoluir, entendendo o motivo”, diz.
Com foto ou sem foto?
Diante dessa possível discriminação, o que fazer nas redes sociais, especialmente as profissionais?
Segundo Ellen, é indicado que a foto usada, sobretudo aquela com foco em carreira, esteja em linha com a boa imagem passada pelo currículo.
Para Sergio Margosian, em redes voltadas para carreira, é importante colocar uma foto profissional porque se trata de networking, evitando foto em festa, bar ou praia. “Mas se eu sou dono de uma casa de eventos eu posso colocar porque está alinhado com minha profissão. A foto tem que estar alinhada com o que a pessoa faz”, pondera.
No currículo impresso, de acordo com Ellen, a foto caiu em desuso de acordo com os padrões de mercado atuais. “Já os currículos online, geralmente, possuem campos específicos para inserir a foto, no entanto, vale reforçar que a qualificação e experiências são os principais pontos que a empresa deve avaliar”, diz.
Segundo o gerente da Michael Page, empresas podem pedir a foto no currículo para cargos específicos, mas essa prática não pega bem. “O próprio candidato vai questionar o porquê, nossa consultoria também vai. O mais importante é a história do profissional, as competências técnicas e comportamentais e não a aparência”, diz.
Imagem é avaliada
Questionados se há preocupação em olhar a imagem do candidato que concorre à vaga, os especialistas em RH responderam que somente em funções específicas, como modelo, atendimento ao público e profissionais de vendas.
Segundo Sergio Margosian, pode acontecer de a empresa pedir profissionais com algumas características, mas no geral a preocupação é com a boa impressão, como, por exemplo, unhas e barba feitas e o cabelo arrumado.
“Hoje em dia o mais importante não é a aparência, a cor de pele ou a estatura, mas o quanto a pessoa se preocupa em causar uma boa impressão. É importante que essa pessoa esteja preocupada com a aparência dela, se ela por exemplo vai a uma reunião, é importante se arrumar para isso”, diz.
Segundo Ellen, o ideal é que as empresas avaliem o candidato por suas competências e experiências profissionais e não pela sua imagem. Mas algumas empresas podem usar o critério da imagem caso percebam uma postura inadequada do candidato.
De acordo com a recrutadora, o candidato pode ser descartado nas entrevistas por causa de comentários, postura e roupas inadequadas ao cargo e inadequação às diretrizes da empresa, por exemplo.
Ellen ressalta que o comportamento nas mídias sociais pode ser consultado por algumas empresas durante o processo de seleção.
“No que diz respeito à imagem que a pessoa passa nas redes sociais, é comum hoje em dia os recrutadores analisarem se o profissional está de acordo com os valores da empresa, por exemplo“, afirma.
FONTE: G1
FONTE: FORÇA SINDICAL